terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

UMA MANIFESTAÇÃO LEGÍTIMA

Gilmar de Souza / Agência RBS

ou

A cidade parou. E vai voltar a parar.

Não é necessário descrever o que houve na tarde desta segunda-feira, depois das 18h, no centro de Blumenau. Mas é necessário falar a respeito. Nós – éramos quantos? – saímos de frente da prefeitura (assim mesmo, com pê minúsculo) e entoando reclames, nos dirigimos ao Terminal Proeb. Muita gente nos viu, muita gente nos apoiou. E reclamando, segurando faixas, pulando (porque “quem não pula quer tarifa”), adentramos ao referido terminal urbano para invadi-lo, para pará-lo e para nos fazermos ouvidos.

Preocupou-me, de certa maneira, que a o manifesto tivesse cunho eleitoreiro, que ali estivessem os tão conhecidos aliciadores de jovens idealistas para lutar por seus candidatos neste e em outros anos eleitorais. E eles apareceram! Mas foram calados pela segurança com que gritávamos que unidos, não precisávamos de partido. E assim foi.

Mas me preocupou ainda mais o fato de que, depois da chuva torrencial, a manifestação viesse a impedir que chegassem a lugares necessários as viaturas de emergência. Mas estava lá a Guarda Municipal de Trânsito dando suporte e cuidando de que ela, a população e nós, manifestantes, estivéssemos seguros.

Mas o que fui dizer! Separei, como que dividindo, a população e os manifestantes. E é por isso que esse texto torna-se necessário.

Os aumentos de tarifa de transporte público são vertiginosos e constantes. Até então, tudo bem, porque pode-se facilmente calcular que com os aumentos do salário mínimo e a inflação a níveis controlados, o poder aquisitivo aumentou. E aumentou, sem dúvida. No entanto, o transporte público melhora a passos lentos.

Foram anos e anos até que fossem construídos os corredores de ônibus urbanos. Medida em muito criticada pela sem-tamanho população automotiva de Blumenau. A estes, digo que não vale lá muito à pena dirigir-lhes a palavra, porque são os grandes responsáveis pela necessidade de corredores de ônibus. Depois, porque são pessoas que não utilizam o transporte público. Ou melhor: impedem o transporte público de ser utilizado; é simples: só olhar a quantidade de carros com somente o condutor a utilizar-se deles. Uma pessoa ocupando um veículo que normalmente transportaria cinco. Vocês, automobilistas, vocês nos dificultam a vida.

Mas o que é realmente lamentável é ver que os próprios usuários do transporte coletivo não apóiam em massa paralisações como a ocorrida nesta segunda-feira. Os motivos são claros:

a) Muitos trabalharam durante todo o dia e não vêem a hora de chegar em casa;

b) O trânsito, já caótico às seis da tarde, torna-se ainda pior com a paralisação de uma via de acesso a bairros populosos;

c) Isso de protesto nunca dá resultados.

É verdade, eu diria: o trabalhador, depois de um dia cansativo, merece mesmo o seu descanso. Mas somos nós, manifestantes, que impedimos esse descanso? Ou será a falta de planejamento viário de uma cidade que não sabe mais o que fazer para crescer? Onde ter carro é uma questão de sobrevivência porque é uma questão de status? E ao trabalhador, pergunto: seríamos nós, manifestantes, que nos levantamos em nome de todos os usuários do transporte coletivo os culpados pela viagem cansativa, suada e desconfortável?

Creio que não: o que me parece, sem dúvida, é que às empresas gestoras do transporte público de Blumenau não lhes interessa qualquer fiscalização. E parece que não há fiscalização. Não fosse assim, não teríamos de andar em ônibus com goteiras, superlotados, sem ventilação. Não fosse a falta de fiscalização, os veículos seriam automaticamente trocados, conforme o tempo de uso. E haveria mais ônibus. E as manhãs e fins de tarde não seriam momentos dos quais sempre se quer fugir e não se pode.

Havia muitos estudantes no Terminal Proeb. Mas havia mães e pais e pessoas mais velhas, e havia jornalistas e havia, ora essa!, o povo. Eu, com minha câmera, flagrava os rostos jovens e confiantes. Mas não estava sozinho: de todos os lados, câmeras e celulares filmavam a manifestação. E as demais pessoas que registravam os fatos pareciam satisfeitas, o que tornava o manifesto ainda mais emocionantes, ainda mais legítimo!

Como dito no término da manifestação, quinta-feira voltaremos. E seremos mais. E se aos responsáveis pelo ônus continuado da população blumenauense continuar a nos ignorar, parece claro: continuaremos!

E parecerá claro ao povo (ele, o que separei dos manifestantes ali em cima) que é necessária a união, porque ela faz a força. E parecerá claro aos motoristas que, irritados, aguardavam no trânsito congestionado a parcela de culpa que lhes cabe. E parecerá claro, finalmente, que é necessário não abaixar a cabeça. Porque já somos muitos, mas seremos ainda mais.


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