segunda-feira, 16 de julho de 2007

PANORAMA DA POESIA BLUMENAUENSE




INTRODUÇÃO

A pergunta mais lógica a ser feita, em princípio, é: por que entrevistar um prosador para falar sobre poesia? A questão não é essa. Primeiro, faltam leitores de poesia. Mas o que falta mesmo é uma leitura crítica de literatura. E se já são raros os leitores de poesia em Blumenau, o que dizer então de leitores de poesia blumenauense.

Maicon Tenfen não somente escreve, mas lê. E lê criticamente. E lê procurando, como poucos, respostas para significados além das metáforas e metonímias. Tendo conhecido praticamente todos os autores contemporâneos blumenauenses, ou pelo menos suas obras, Maicon tem uma opinião acerca do que acontece literariamente em Blumenau. Professor de literatura brasileira da FURB, o Doutor Maicon Tenfen é um (dos poucos) que ainda ousa pensar a linguagem além das linhas e entrelinhas.

Pois que resolvi entrevistá-lo para saber sua opinião a respeito do que pensava da produção poética blumenauense. O resultado é o que se poderá ler em seguida.

EXISTE UMA LITERATURA BLUMENAUENSE?

Para responder a essa questão, é necessário fazer uma outra pergunta: afinal, o que é literatura? “Se literatura é a produção escrita, simplesmente, não há como negar sua existência.” Afinal, escrevemos. Proponho então uma livre interpretação do conceito de Jakobson, que propõe ser a literatura ‘uma violência organizada contra a fala comum’. Ou seja: que a literatura seria uma forma de propor a revolução constante da linguagem. Estabelecida a definição que utilizaremos de Literatura, vem a resposta de Maicon: “Já houve, sim, uma literatura blumenauense.” Maicon chega aonde eu queria chegar com a nossa conversa: no experimentalismo literário dos anos de 1990.

1960-1990

Sabe-se que até os anos de 1990, o que imperava em Blumenau, apesar do aparecimento, poucos anos antes, de José Endoença Martins, era a literatura Blumenalva, de exaltação do germanismo local, do bucolismo de uma cidade colonial etc. Temos, nesse ponto, como figura máxima o poeta Lindolf Bell e seus respectivos seguidores — que não poderíamos citar aqui, de tantos que são. Uma poesia que, apesar de toda a repercussão e de tanta propaganda, chegou poucas vezes a um patamar literário superior.

A década de 1990 e o verdadeiro movimento literário que houve em Blumenau fez história por justamente revolucionar a linguagem. Foi uma época, nas palavras de Maicon Tenfen, de verdadeira efervescência cultural, tendo como poetas principais os nomes de Dennis Radünz, Marcelo Steil, Mauro Galvão, Tchello d´Barros e José Endoença Martins.

EXPERIMENTALISTAS

A revolução maior talvez tenha ocorrido em função da noção de coletividade dos próprios poetas. “Eram poetas da intertextualidade, que pesquisavam a linguagem”, diz Maicon. A importância desse movimento deve-se, portanto, à sua “ousadia, à sua coesão e à sua proposta literária”.

Sem dúvida. Enquanto os poetas bellianos (como são chamados os autores que ovacionam a cidade) insistiam em retratar o rio, os vales, as carroças e as flores — alguns poetas perceberam que havia por trás de tudo isso um mundo. O Mundo, por assim dizer.

Vê-se que o grande responsável por essa pequena — mas tão válida — produção localizada em alguns livros e num curto espaço de tempo, foi o poeta blumenauense Dennis Radünz, criador da alcunha Nauemblu – e dos poemas que , que define teoricamente a literatura dessa época. Propunham-se estes poetas, na visão de Maicon Tenfen, a “não somente discutir, mas fazer Literatura”.

Pergunto a Maicon Tenfen por que, então, não se ouve falar desses poetas e de suas obras. Ao que ele me fala do hermetismo de sua poesia. “O que parece é que as obras poéticas década de 1990, com exceção da de José Endoença Martins (que era justamente a mais popular), falavam de e para o próprio grupo.” A respeito disso, Maicon me diz que, apesar de parecer um erro dos poetas, escrever para si próprios talvez tenha sido uma meta alcançada, pois que foi a década de lançamento de alguns dos livros mais importantes de poesia publicados em Blumenau, entre eles Exeus, de Dennis Radünz; Fogofurto, de Marcelo Steil e Sincretinismo, de Mauro Galvão.

ENTRE A INSTITUIÇÃO E A MARGINALIDADE

A conversa com Maicon Tenfen ruma para o presente. É quando aparece a figura de Douglas Zunino, poeta marginal oriundo dos anos de 1970. “Zunino sempre esteve por aqui”, diz Maicon, referindo-se ao poeta de rua que volta e meia publica um livro não oficial, ou seja, com publicação custeada por ele ou por algum patrocinador e que insiste em não oficializar a obra. “Douglas Zunino tem uma obra boa, mas que não tem vazão. Ele deveria transcender o marginal e ocupar um espaço oficial”, diz Maicon a respeito do poeta que, ainda segundo ele, “apesar de ter estado entre os poetas experimentalistas, não se perdeu no hermetismo da ocasião”, reflete o professor. “O Douglas sempre quis comunicar”.

A verdade é que, em complemento ao assunto corrente, falamos do momento atual, em que literatura blumenauense sofre com sua institucionalização através de sociedades de escritores: “Poeticamente falando, estamos na jequice das instituições literárias”. Pois que, ao contrário de Douglas Zunino, há poetas que investem na coletividade e criam instituições literárias, seja ela uma sociedade de escritores ou mesmo uma academia de letras. A respeito de tais instituições, Maicon elogia suas atitudes de divulgação, que são realmente muito interessantes, como a ocupação vista na mídia local e nos calendários de eventos. “No entanto”, diz, “as entidades literárias daqui não são realmente significativas”.

O PRESENTE

Maicon Tenfen não vê, no momento, ninguém com uma obra poética representativa em Blumenau. José Endoença Martins, por exemplo, há anos não publica um livro de poesia — e parece mesmo que terminou seu trabalho nesse âmbito. Dennis Radünz foi para Florianópolis, Tchello d´Barros nunca passou dos poemínimos, “Mauro Galvão, pelo silêncio”, diz Maicon, “deve estar escrevendo, mas há tempos nada publica”; o único poeta que ainda escreve e publica poesia de verdade é Douglas Zunino. Mesmo que na marginalidade, por assim dizer. No mais, o que enche nossas páginas e nossos olhos é pura “poesia ginasiana”, conclui o professor.

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