quarta-feira, 25 de abril de 2012

Poema de Olheiras

Era antes de anteontem...
[Hoje a chuva desce rala
e a pedra sobe o monte]

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A TARIFA AUMENTA (e quem lucra com isso?)

Eu sou de esquerda. Sou mesmo! Partindo do princípio latino de que a direita é quem governa a favor de quem pode e de que a esquerda é a favor de quem sempre pôde menos, eu lhes digo: sou de esquerda! Acontece que, alienígena, não pertenço a partido nenhum. Porque, claro, o PT sempre quererá a esquerda do PDT, e este as esquerdas do PSTU e PSOL.

Mas eu sou de esquerda e participei dos dois primeiros protestos contra o aumento da tarifa da passagem de ônibus aqui na província de Blumenau. Por que participei? Ora! Porque não tenho carro nem CNH nem nada parecido e sou usuário convicto do sistema público de transportes. E, como poucos, me senti onerado pelo aumento da tarifa e pelo não-aumento da qualidade do serviço público municipal de transportes.

Aconteceu o seguinte: partidários de ditas esquerdas perceberam num filão interessantíssimo (adolescentes estudantes), um rico mercado eleitoreiro e partiram de princípios ancestrais, tais como a reação estudantil da UNE nos anos de 1960 e 1970, para inflamar estudantes secundaristas contemporâneos a marcharem contra o aumento da tarifa e a gritar contra o prefeito e seu partido.

Não se enganem!

Sou de esquerda e acho o governo de JPK errante. No entanto, como não sou partidário, me ative a detalhes durante as duas primeiras passeatas:

1º. Quem pagou os carros de som?

2º. Quem eram os que entoavam os hinos contra a tarifa?

3º. Por que não houve uma tentativa de aproximação do público reclamante com os usuários “de fato” do transporte coletivo — ou seja: o povo?

Porque, realmente, um hino tal qual “o dinheiro do meu pai não é capim / eu pulo a catraca sim” me parece demasiadamente pueril, infantil até, porque a gurizada McDonalds não deve muito se importar com a grana dos velhos. Se se importassem, pediriam para estudar [e lutariam para que pudessem ter o direito de ensino de qualidade] numa escola pública. Mas não! Cheiram a Häagen-Dazs e reclamam da ida e volta da escola. Não, não faz sentido.

A isso me ative depois das primeiras passeatas e depois de perceber que por mais idealistas que fôssemos, pouca coisa faríamos. Ainda que muitos, ainda que muitíssimos, pouco se realizaria. E agora vejo, definitivamente, que pouco se realizará. Porque, afinal, a grana do pai do estudante que paga meia passagem para ir à escola e ao shopping tanto faz; não se dialoga com o trabalhador, de quem 6% do salário são descontados mês a mês. Não se dialoga com a classe trabalhadora do transporte coletivo (os que de fato param a cidade) para que haja simetria nos protestos. Não se dialoga com ninguém! É a juventude esquerdista partidária de aqui e de ali lutando por um lugar ao sol no mundo poliltiqueiro de sempre.

Alguma dúvida? Tenho várias: para além dos carros de som (pagos por quem?), resta o seguinte: porque dividiam-se entre ‘os da frente’ e ‘os de trás’? Eu mesmo presenciei vaia do povo de trás a hinos do povo da frente. Por quê?

Os que apoiaram, e eu estava entre eles, pergunto: quantos estavam realmente indignados com o valor abusivo e quantos estavam nas passeatas pelo calor da hora?

Mas vou resumir o final da questão: hoje à noite, no terminal de pré-embarque da Catedral, percebi que as três portas estavam abertas e que o ar-condicionado estava ligado. Mas como eu suava em bicas, achei interessante registrar o fato com minha câmera. Porque, no fim das contas, os reajustes de passagem se devem às ditas melhorias no transporte coletivo. No momento em que comecei a fotografar, fui abordado por um funcionário do SIGA que me disse que eu “NÃO PODIA FILMAR” ali dentro. E o mesmo pôs a mão na frente da lente, feroz, dizendo que eram ordens da concessionária. Respondi dizendo que eu mesmo era funcionário público, alocado no SETERB, e que era usuário pagante do transporte coletivo, ao contrário dele, funcionário privado, que tinha privilégios no momento de embarcar num ônibus. Ele insistiu e eu disse então que chamasse a polícia, ao que o mesmo respondeu de imediato, retirando o celular do bolso e discando 190. Redargüi explicando que leis federais (como a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 [artigos 48 e 79] e a Constituição Federal sobrepunham-se às diretrizes da empresa. O funcionário guardou o celular (com o qual ia chamar a polícia) e me repetiu que não filmasse. Disse então que agora que tinha explicado que estava protegido por lei, filmaria e fotografaria, e ele que me impedisse. Para tanto, sabendo ser ele assalariado, fiz questão de mão focar-lhe o rosto.

As questões finais a que chego são:

a) Num ano eleitoral, quem faz protesto contra a situação é quem merece voto?

b) “Quem boca vai a Roma” ou “quem tem boca vaia Roma”?

c) Em vez de parar o trânsito impedindo veículos de emergência de circular, ainda mais numa cidade de três ruas, por que não fazem igual a mim e enfrentam, pessoalmente e sozinhos, a miséria imposta pelas empresas concessionárias?

Daí fica a pergunta: cadê as imagens? Elas estão na minha câmera, uma Sony HX-1, cujo cano está temporariamente perdido. Peço ajuda para transportá-las pra um computador e mostrar, definitivamente, que não se trata de mera ladainha.

E peço aos que puderem filmar e fotografar a precariedade do transporte público, que o façam.

E digo ainda que não sou contra as manifestações: sou contra o oportunismo escroto-partidário!

E sigo reclamando. Não por direito, mas por dever.

Abraços!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

UMA MANIFESTAÇÃO LEGÍTIMA

Gilmar de Souza / Agência RBS

ou

A cidade parou. E vai voltar a parar.

Não é necessário descrever o que houve na tarde desta segunda-feira, depois das 18h, no centro de Blumenau. Mas é necessário falar a respeito. Nós – éramos quantos? – saímos de frente da prefeitura (assim mesmo, com pê minúsculo) e entoando reclames, nos dirigimos ao Terminal Proeb. Muita gente nos viu, muita gente nos apoiou. E reclamando, segurando faixas, pulando (porque “quem não pula quer tarifa”), adentramos ao referido terminal urbano para invadi-lo, para pará-lo e para nos fazermos ouvidos.

Preocupou-me, de certa maneira, que a o manifesto tivesse cunho eleitoreiro, que ali estivessem os tão conhecidos aliciadores de jovens idealistas para lutar por seus candidatos neste e em outros anos eleitorais. E eles apareceram! Mas foram calados pela segurança com que gritávamos que unidos, não precisávamos de partido. E assim foi.

Mas me preocupou ainda mais o fato de que, depois da chuva torrencial, a manifestação viesse a impedir que chegassem a lugares necessários as viaturas de emergência. Mas estava lá a Guarda Municipal de Trânsito dando suporte e cuidando de que ela, a população e nós, manifestantes, estivéssemos seguros.

Mas o que fui dizer! Separei, como que dividindo, a população e os manifestantes. E é por isso que esse texto torna-se necessário.

Os aumentos de tarifa de transporte público são vertiginosos e constantes. Até então, tudo bem, porque pode-se facilmente calcular que com os aumentos do salário mínimo e a inflação a níveis controlados, o poder aquisitivo aumentou. E aumentou, sem dúvida. No entanto, o transporte público melhora a passos lentos.

Foram anos e anos até que fossem construídos os corredores de ônibus urbanos. Medida em muito criticada pela sem-tamanho população automotiva de Blumenau. A estes, digo que não vale lá muito à pena dirigir-lhes a palavra, porque são os grandes responsáveis pela necessidade de corredores de ônibus. Depois, porque são pessoas que não utilizam o transporte público. Ou melhor: impedem o transporte público de ser utilizado; é simples: só olhar a quantidade de carros com somente o condutor a utilizar-se deles. Uma pessoa ocupando um veículo que normalmente transportaria cinco. Vocês, automobilistas, vocês nos dificultam a vida.

Mas o que é realmente lamentável é ver que os próprios usuários do transporte coletivo não apóiam em massa paralisações como a ocorrida nesta segunda-feira. Os motivos são claros:

a) Muitos trabalharam durante todo o dia e não vêem a hora de chegar em casa;

b) O trânsito, já caótico às seis da tarde, torna-se ainda pior com a paralisação de uma via de acesso a bairros populosos;

c) Isso de protesto nunca dá resultados.

É verdade, eu diria: o trabalhador, depois de um dia cansativo, merece mesmo o seu descanso. Mas somos nós, manifestantes, que impedimos esse descanso? Ou será a falta de planejamento viário de uma cidade que não sabe mais o que fazer para crescer? Onde ter carro é uma questão de sobrevivência porque é uma questão de status? E ao trabalhador, pergunto: seríamos nós, manifestantes, que nos levantamos em nome de todos os usuários do transporte coletivo os culpados pela viagem cansativa, suada e desconfortável?

Creio que não: o que me parece, sem dúvida, é que às empresas gestoras do transporte público de Blumenau não lhes interessa qualquer fiscalização. E parece que não há fiscalização. Não fosse assim, não teríamos de andar em ônibus com goteiras, superlotados, sem ventilação. Não fosse a falta de fiscalização, os veículos seriam automaticamente trocados, conforme o tempo de uso. E haveria mais ônibus. E as manhãs e fins de tarde não seriam momentos dos quais sempre se quer fugir e não se pode.

Havia muitos estudantes no Terminal Proeb. Mas havia mães e pais e pessoas mais velhas, e havia jornalistas e havia, ora essa!, o povo. Eu, com minha câmera, flagrava os rostos jovens e confiantes. Mas não estava sozinho: de todos os lados, câmeras e celulares filmavam a manifestação. E as demais pessoas que registravam os fatos pareciam satisfeitas, o que tornava o manifesto ainda mais emocionantes, ainda mais legítimo!

Como dito no término da manifestação, quinta-feira voltaremos. E seremos mais. E se aos responsáveis pelo ônus continuado da população blumenauense continuar a nos ignorar, parece claro: continuaremos!

E parecerá claro ao povo (ele, o que separei dos manifestantes ali em cima) que é necessária a união, porque ela faz a força. E parecerá claro aos motoristas que, irritados, aguardavam no trânsito congestionado a parcela de culpa que lhes cabe. E parecerá claro, finalmente, que é necessário não abaixar a cabeça. Porque já somos muitos, mas seremos ainda mais.


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Mais falações em 2010.

A desculpa que vinha usando para manter este espaço silencioso era que, afinal, havia me proposto a escrever sobre a literatura blumenauense ou, para soar melhor, produzida a partir de Blumenau.

Acontece que depois de falar de velhos e de novos autores, não havia lá muito assunto. E se entrasse na discussão recorrente das agremiações literárias que poluem nossos sentidos com sua vasta produção, acabaria deixando de dar valor ao que valor de fato tem.

Pois que 2009 foi um ano interessante, com lançamentos interessantes, boas leituras e um ou outro evento (pseudo) literário de algum valor. Talvez que eu venha me referir a eles no início de 2010, talvez não.

De qualquer forma, sinto falta de discutir e ver discutida a produção local. E se a minha discussão parece tosca eu digo: por mais simples que seja, existe e, vez em quando, causa algum eco. É atrás desse eco que vou. Sim, porque de masturbação já estamos todos (?) - retomo: de masturbação já deveríamos estar todos cansados.

Pois bem: que venha 2010 e, com ele, novos diálogos acerca de literatura, pseudo-literatura, não-literatura ou simplesmente culinária.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Há vida (e boa literatura!) no mundo eletrônico.

É longa a discussão a respeito de uma possível morte do livro como tal, impresso e consumido em papel, e de sua eternidade enquanto perpetuador do que conhecemos por meio de transmissão cultural. Essa discussão promissora toma forma em um livro (que eu tenha lido) do francês Roger Chartier: em A aventura do livro: do leitor ao navegador, Chartier reconta formas de escrita, de publicação e de leitura e, no fim das contas, parece contar com a continuidade do material impresso.

O livro deverá continuar fascinando leitores. Porém, se hoje publicar o material impresso tornou-se consideravelmente mais fácil — desde que haja dinheiro para tanto — temos em nossas mãos a facilidade das facilidades no que diz respeito à literatura. Com a velocidade da informação, não se está somente preocupado em obtê-la, mas também em repassá-la. O mesmo, por sinal, acontece com a literatura.

Se, por um lado, essa facilidade em tornar o material literário público permite que muita literatura ruim seja publicada, repassada e tida como o seu inverso, ou seja, boa literatura, por outro lado temos pequenos tesouros escondidos pelas rincões da Web.

Desde os fóruns de literatura — onde de tudo se publica e por onde quase todo escritor eletrônico passou — até comunidades direcionadas à discussão acadêmica de determinados autores, podemos nos deparar com escritores que, a sério ou não, publicam seus textos informalmente e, aos poucos, ainda assim, ocupam espaços de referência. Dos espaços que pude conhecer — e das pessoas que acabei conhecendo eletronicamente — recomendo alguns espaços sem dúvida interessantes. Limito-me a citar escritores catarinenses, embora essa seja uma discussão longa, porém pertinente: em terras eletrônicas, não se pode mais delimitar o escritor numa origem, cadenciá-lo num terreno aqui ou acolá.

SARAU ELETRÔNICO

Um espaço acadêmico e, ao mesmo tempo, do avesso. Por dois motivos: após a extinção da Revista Lírio Astral, coordenada pelo professor José Endoença Martins há alguns anos, não havia um espaço, por assim dizer, formal onde se pudesse ler sobre literatura catarinense — mesmo porque a Revista de Divulgação Cultural, da FURB, também fora extinta havia algum tempo; e, por outro lado, pelo sentido avesso a que me referi, porque não se lê ali somente a respeito dos autores: lê-se os próprios nas entrevistas concedidas ao Viegas, algo raro de se ver por aqui.

Nesse contexto, surge o site Sarau Eletrônico. Em função da comemoração dos 40 anos da biblioteca da dita universidade, o escritor e historiador Viegas Fernandes da Costa inicia a coordenação de um projeto que se tornou, em terras brasileiras, uma confiável e saudável fonte de informação sobre escritos e escritores deste estado. Além das entrevistas, temos ali artigos acadêmicos ou não e dicas interessantes de livros de que a biblioteca dispõe. Para além do óbvio, o que nos é muito melhor.

ALPHARRÁBIO

Viegas da Costa há muitos anos utiliza-se da Web para publicar seus textos. Autor dos impressos “Sob a luz do farol” (crônicas, 2005) e do aqui criticado “De espantalhos e pedras também se faz um poema” (poemas, 2008), publicou entre 2002 e 2006 no site A Barata, sendo lido por milhares de leitores que semanalmente recebiam suas crônicas por email. Hoje, publica no seu Alpharrábio — com a liberdade temporal de que se dispõe quando se é dono do próprio espaço — contos e crônicas (literárias ou não) e pontos de vista de quem sempre tem algo substancial a dizer.

DUELO DE ESCRITORES

De dar inveja a seriedade com que levam adiante este projeto. Mantido por cinco autores, o Duelo, como é carinhosamente chamado, é atualizado a cada dez dias e mostra um pouco do que são capazes seus duelistas: com temas prévios (que devem ser seguidos) e regras esclarecidas, os autores têm prazo para publicar o seu texto. Aí é que está a garantia de boa leitura: cada autor publica o seu texto. Dessa forma, embora com tema predeterminado, lê-se, cada vez, não apenas variações sobre o mesmo tema, mas variações em torno do próprio autor, que precisa se adequar também ao assunto da rodada.

Através do site do Duelo pode-se chegar a outros sítios riquíssimos, mantidos por duelistas fora da competição. Falo dos blogs de Marina Melz e Rodrigo Oliveira, merecedores de leitura e de acompanhamento. Embora em estilos diferentes — Marina escreve crônicas em torno de seu cotidiano enquanto Rodrigo mergulha nas liberdades que a escrita permite — são dois espaços férteis para quem deseja ler um bom texto.

POIS ENTÃO

Há mais, há tanto, há quantos? Felizmente, cada autor de blog mantém a sua lista de blogs favoritos. É através dos links que chegamos sempre mais longe. Mesmo que mais longe signifique, muitas vezes, ao nosso lado.

Se há que se preocupar com a extinção do livro, eu acho que não. Ele continuará, como sabemos. Mas que, talvez, se deva clicar com foco, lendo o que de bom se publica na internet, eu acho realmente que sim. E espero que estes links dispostos aqui sejam um bom ponto de partida para que quem já escreve na internet conheça outros autores; para quem ainda não escreve, que sirvam de exemplo estes autores que fazem o mundo eletrônico um espaço realmente interessante.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Provocação que veio a calhar.

Há, sim, mais o que dizer a respeito da nomeação da dama da sociedade, Sra. Marlene Schlindwein, para a presidência da Fundação Cultural de Blumenau. Mas quem veio provocar foi o Fábio Ricardo, (que inclusive provocou antes o Costadessouza). Pois bem, vamos aos ditos fatos e, para isso, vou responder a algumas provocações do Fábio Ricardo:

(...) “Nós precisamos sim brincar com a arte, não com o sentido de sacaneá-la ou largá-la ao acaso. Nós precisamos brincar com ela justamente para nos tornarmos novamente amigos da arte”.

Até concordo e imagino que, em relação ao artista, não há nada melhor do que brincar com a arte, seja a sua, seja a dos outros. Mas não vamos falar de arte, vamos falar de políticas culturais, de gestão cultural, de proposição de projetos que buscam algum dinheiro para uma entidade que definha.

Provocação aceita, vamos aos fatos. Andei conversando com um tanto de gente durante nessa última semana, a fim de encontrar algumas respostas. Uma delas diz respeito a um fato triste que se repete em cada uma das secretarias da Prefeitura de Blumenau. Como o assunto da vez é a Fundação, ela nos serve de exemplo.

Toda transição de governo é complicada, sem dúvida. Acontece que a Fundação, em vez de mostrar-se uma casa séria, serve muito bem de palanque eleitoral e cabideiro de cargos políticos. E isso aparece claramente no fato de que não se criam políticas culturais sérias em quatro anos. Nem em oito. Nem em doze. Mesmo assim, quem dita o que acontece ou não nessa casa são profissionais que assumem cargos políticos, temporários, que foram empossados por partidarismo, coleguismo e outros ismos, como nos acostumamos a saber.

Dentro dessa lógica, o profissional que entra na Fundação por competência e não tem filiação é logicamente desligado da casa e os profissionais que estão ali há mais de quatro, oito ou doze anos ficam não com as decisões político-culturais, mas apenas com a rotina burocrática de uma casa pública. Ou seja: não há estabilidade ideológica, tão necessária, nessa casa.

Dessa forma, me parece brincadeira que tenham diminuído o orçamento da Fundação. E que tenham diminuído o número de funcionários. E que coloquem ali a Dona Marlene, que não representa nada nem ninguém e que nunca ouviu falar da maioria de nós, seja lá em que parâmetro, artistas.

Portanto, Fábio, vejo que a Fundação Cultural de Blumenau é o playground da situação política de Blumenau. Sim. Porque é brincadeira empossarem Dona Marlene. E é brincadeira que Dona Marlene agora vá se informar do que acontece naquela casa. No meio dessa brincadeira toda (de puro mau-gosto), posso somente dizer: quem brinca com a arte é o artista; quem acha que política cultural é uma brincadeira, um faz-de-conta eleitoral, como vemos agora, é simplesmente ignorante. E são esses ignorantes que têm nos representado há um bom tempo, já.

“Colocar um administrador de empresas ou um político para gerir a arte do município é uma afronta àqueles que gostam de brincar com a arte”.

É sim, mas somente à primeira vista, somente dentro daquilo que vem acontecendo em Blumenau. Colocam um político para gerir seu próprio nome, não a arte do município. Um exemplo? Vamos levar adiante a teoria da conspiração:

1) Esse ano temos aí o sesquicentenário dos Clubes de Caça e Tiro. Esses clubes são organizações sociais que representam, em parte, muito da cultura blumenauense. Dona Marlene, do outro lado, é uma dama da sociedade que combina roupas e faz parte de, li no jornal, pelo menos cinco grupos sociais de senhoras sociais e tal. Mas temos o Ano dos Clubes de Caça e Tiro, o que me leva a pensar que...

2) Pois bem. Dona Marlene concorreu ao legislativo, mas não ganhou. E Dona Marlene, dizem alguns contatos, é um dos grandes nomes do PMDB para o legislativo estadual nas próximas eleições. Mas quem elegerá Dona Marlene, os artistas? As senhoras do Clube de Senhoras? Não, exatamente.

Dona Marlene tem em suas mãos a grande ocasião que é presidenciar a Fundação Cultural num ano histórico para boa parte da alemã Blumenau que habitamos. É isso que me deixa sem ter o que dizer: é tão escancarada a arrogância e a forma como nos subestimam, que em muito breve, ao invés de o Santa chamar Dona Marlene de A Dama das Artes, como fez, vai chamá-la de A Dama dos CCT´s. Querem apostar? Quero receber em cerveja!

A arte é uma criança auxiliada por adultos. Assim deveria ser, pelo menos. Mas o que podemos perceber é que, por aqui, a arte é uma forma oblíqua de manifestar dizeres. Tão oblíqua que não consegue dizer a si própria. Enquanto isso, claro, nossos colegas institucionalizados vão normalmente institucionalizando ainda mais a coisa toda, certamente apoiando Dona Marlene e auxiliando-a no entendimento do que é cultura, do que é arte, literatura, teatro, dança por aqui .

Uma pena que eu não faça parte de uma instituição dessas, seja de escritores, artistas plásticos ou senhoras sociais.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ouve a gente, Dona Marlene!

Mas se não quiser ouvir, não precisa. Afinal, quem somos nós pra querer alguma coisa? A maioria de nós é fabril mesmo e está condenado a isso. Quem mandou, afinal, mexer com o que não devia? Daí tem o sujeito que fica feliz porque consegue enxergar um pouco mais, ou como diria o Gaarder, consegue subir na ponta do pêlo do coelho. Coitado, tá fodido! E não somente pelo grande clichê nacional (que aqui, estranhamente, não faz sentido: não vivemos na Europa brasileira?) de que artista tem mesmo é que passar fome.

E tem mesmo, não é? Gente que não se aproveita pra nada. Tá lá o sujeito que pinta, escreve, encena, canta, toca, compõe, dança, esculpe e sabe lá Deus o que mais! Gente bizarra: não trabalha nem pra comer e ainda consegue comer com isso? Nem pão com ovo mereciam! Artista não soma nada à força de trabalho e, por isso, quanto mais se puder fazer para que os coitados sofram, melhor. Vai que desistem!

(...)

Mas tudo bem. A gente vai lá e vota no cara das flores e dos ladrilhos encerados. E a gente vota numa Câmara de Vereadores que é toda situação. E quando a situação fica pela rua da amargura (tá aí a Dona Marlene pra nos mostrar isso), o que eu penso é que, no fim, a gente tem é que se foder mesmo. Afinal, não merece respeito quem vive a vida como se fosse um hobby. Não, Dona Marlene, a gente não quer saber dos seus hobbies. A gente só quer dormir um pouco mais tranquilos. Será que dá?

Marcelo Labes.


HOMENAGEM

Chega a dama
de pincel na mão.
Quadro estranho,
nunca viu tal formão.

De arte, não dá bandeira.
— Não dá, Bandeira!
Não dá.

Arte?
Articulação.
Arte?
Manha.

Chega a dama toda prosa
É ela a dama do verso?
É ela dama diversa.

Atuar, atua; bem se diga.
Só não no palco, que prefere os bastidores.

Apaga-se a ribalta,
desafina a canção,
ao ver a dama de pincel na mão.

Eis a dama acenando um papel.
Há Letras lá; mas só lá, pois então!

— Abana mais forte, pra espantar a poeira!
Muito tempo parado, acumulou pó da prateleira.

Pintou assim, meio do nada.
Como uma pincelada mal feita,
como obra rasurada.

— Basta, poeta. Já não há o que fazer.
— Muito o há, mas será que vai acontecer?

Arte?
Artimanha.
Arte?
Articulação.

Sobrou a esperançado erro,
de não repetir-se o refrão.

Espero a dama
Calar-me então.

Terá seu ato diferente bordão?


Rodrigo Oliveira - http://www.roferoli.blogspot.com/


CARÍSSIMA DONA SCHLINDWEIN,

Marlene,

Somos reféns desse esquema de botar em cargos públicos quem o partido amigo pede. Pede não, manda. Na sua pasta, a da Fundação Cultural, acaba de se despedir um senhor bem pouco feito às artes, assim como a senhora, e do mesmo partido que o seu. O que ele fez? Não, não é falta de conhecimento seu na área artística. Eu também não sei o que ele fez.

Engraçado. Por que o prefeito nomeou o José Bahls de Almeida para o Turismo, e não a senhora? Afinal, a senhora deve ter viajado bastante e sabe o que é bom de se ver quando se chega a uma nova cidade. Isso basta, não? Isso é um grande passo pra se administrar o Turismo na cidade.

Deve ser difícil pra senhora estar prestes a assumir a administração da Fundação Cultural de Blumenau, um emprego em que a senhora mesma disse que não sabe o que fazer. Diga que acha engraçado! Nem precisa rir. Só dizer. Me conforta.

É um prefeito que cospe na arte, sim, Dona Marlene. Mas, como disse, somos reféns, e juntos. Ouvi dizer que a senhora vai chamar assessores. Sua humildade é um sinal que ainda há o que fazer para reverter a lambança. O que precisamos?

Tudo o que pede o Conselho de Cultura e mais um pouco.

Discutir os problemas e debater soluções com participação dos artistas. A senhora sabe lidar com o povo e com debates, não é, Dona Marlene?

Não deixe o Museu de Artes de Blumenau jogado enquanto viaja pelo Estado, como fez o Seu Ivo! Cheguei lá no museu e era um artista voluntário que estava abrindo e fechando as portas todos os dias. Não deixe que os valentes que ainda vão ao museu tenham que presenciar isso!

Dê uma olhada na literatura bairrista que vai pedir dinheiro na Lei de Incentivo. Ela não melhora a gente.

Ajude o Festival de Teatro Universitário! Dê uma verba digna, pague os atendentes que cuidam dos ingressos. São todos voluntários também. É luta demais, e o reconhecimento ao festival já veio. Está na hora de investir nele.

Interfira para que os artistas possam se apresentar mais no Teatro Carlos Gomes. É belíssimo, e nem precisa parar as formaturas pra colocar uma peça lá de vez em quando. Lembre-se: ele vai ser reformado com dinheiro do povo!

Ouça os artistas, Dona Marlene! E, se um dia, numa conversa mais amena, o prefeito estiver animado com os resultados, explique pra ele que com arte não se brinca.

Sucesso!

Daniel CostadeSSouza - http://costadessouza.wordpress.com/

MAIS UM GOLPE CONTRA A ARTE E A CULTURA

Espero que Marlene Schlindwein, realmente corra contra o tempo para conhecer as atividades da Fundação Cultural de Blumenau e principalmente, que entenda, o mais rápido possível que Arte e Cultura não são "hobby". A Arte e a Cultura, geram trabalho, emprego, renda e qualidade de vida. Não há como entender partidos políticos que indicam para cargos de tamanha importância, pessoas que admitem publicamente a falta de conhecimento nas áreas em que vão atuar.É lamentável e com certeza todos perdemos.

Em entrevista publicada no santa, Marlene assumiu que a sua nomeação é apenas uma questão política e além disso admite não ter conhecimento nenhum sobre as atividades da Fundação ... é revoltante! Pior ainda diz que tem a cerâmica e a poesia como Hobby, por favor, Arte e Cultura não são Hobby!

Isto é um desrespeito para quem pensa, faz, formenta e divulga a Arte e a Cultura em BlumenauO prefeito e o PMDB estão cuspindo na Arte e na Cultura.A classe artistica e o povo, merecem uma explicação.

Monalisa Budel

Acadêmica de Artes Visuais - Blumenau