sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Ouve a gente, Dona Marlene!

Mas se não quiser ouvir, não precisa. Afinal, quem somos nós pra querer alguma coisa? A maioria de nós é fabril mesmo e está condenado a isso. Quem mandou, afinal, mexer com o que não devia? Daí tem o sujeito que fica feliz porque consegue enxergar um pouco mais, ou como diria o Gaarder, consegue subir na ponta do pêlo do coelho. Coitado, tá fodido! E não somente pelo grande clichê nacional (que aqui, estranhamente, não faz sentido: não vivemos na Europa brasileira?) de que artista tem mesmo é que passar fome.

E tem mesmo, não é? Gente que não se aproveita pra nada. Tá lá o sujeito que pinta, escreve, encena, canta, toca, compõe, dança, esculpe e sabe lá Deus o que mais! Gente bizarra: não trabalha nem pra comer e ainda consegue comer com isso? Nem pão com ovo mereciam! Artista não soma nada à força de trabalho e, por isso, quanto mais se puder fazer para que os coitados sofram, melhor. Vai que desistem!

(...)

Mas tudo bem. A gente vai lá e vota no cara das flores e dos ladrilhos encerados. E a gente vota numa Câmara de Vereadores que é toda situação. E quando a situação fica pela rua da amargura (tá aí a Dona Marlene pra nos mostrar isso), o que eu penso é que, no fim, a gente tem é que se foder mesmo. Afinal, não merece respeito quem vive a vida como se fosse um hobby. Não, Dona Marlene, a gente não quer saber dos seus hobbies. A gente só quer dormir um pouco mais tranquilos. Será que dá?

Marcelo Labes.


HOMENAGEM

Chega a dama
de pincel na mão.
Quadro estranho,
nunca viu tal formão.

De arte, não dá bandeira.
— Não dá, Bandeira!
Não dá.

Arte?
Articulação.
Arte?
Manha.

Chega a dama toda prosa
É ela a dama do verso?
É ela dama diversa.

Atuar, atua; bem se diga.
Só não no palco, que prefere os bastidores.

Apaga-se a ribalta,
desafina a canção,
ao ver a dama de pincel na mão.

Eis a dama acenando um papel.
Há Letras lá; mas só lá, pois então!

— Abana mais forte, pra espantar a poeira!
Muito tempo parado, acumulou pó da prateleira.

Pintou assim, meio do nada.
Como uma pincelada mal feita,
como obra rasurada.

— Basta, poeta. Já não há o que fazer.
— Muito o há, mas será que vai acontecer?

Arte?
Artimanha.
Arte?
Articulação.

Sobrou a esperançado erro,
de não repetir-se o refrão.

Espero a dama
Calar-me então.

Terá seu ato diferente bordão?


Rodrigo Oliveira - http://www.roferoli.blogspot.com/


CARÍSSIMA DONA SCHLINDWEIN,

Marlene,

Somos reféns desse esquema de botar em cargos públicos quem o partido amigo pede. Pede não, manda. Na sua pasta, a da Fundação Cultural, acaba de se despedir um senhor bem pouco feito às artes, assim como a senhora, e do mesmo partido que o seu. O que ele fez? Não, não é falta de conhecimento seu na área artística. Eu também não sei o que ele fez.

Engraçado. Por que o prefeito nomeou o José Bahls de Almeida para o Turismo, e não a senhora? Afinal, a senhora deve ter viajado bastante e sabe o que é bom de se ver quando se chega a uma nova cidade. Isso basta, não? Isso é um grande passo pra se administrar o Turismo na cidade.

Deve ser difícil pra senhora estar prestes a assumir a administração da Fundação Cultural de Blumenau, um emprego em que a senhora mesma disse que não sabe o que fazer. Diga que acha engraçado! Nem precisa rir. Só dizer. Me conforta.

É um prefeito que cospe na arte, sim, Dona Marlene. Mas, como disse, somos reféns, e juntos. Ouvi dizer que a senhora vai chamar assessores. Sua humildade é um sinal que ainda há o que fazer para reverter a lambança. O que precisamos?

Tudo o que pede o Conselho de Cultura e mais um pouco.

Discutir os problemas e debater soluções com participação dos artistas. A senhora sabe lidar com o povo e com debates, não é, Dona Marlene?

Não deixe o Museu de Artes de Blumenau jogado enquanto viaja pelo Estado, como fez o Seu Ivo! Cheguei lá no museu e era um artista voluntário que estava abrindo e fechando as portas todos os dias. Não deixe que os valentes que ainda vão ao museu tenham que presenciar isso!

Dê uma olhada na literatura bairrista que vai pedir dinheiro na Lei de Incentivo. Ela não melhora a gente.

Ajude o Festival de Teatro Universitário! Dê uma verba digna, pague os atendentes que cuidam dos ingressos. São todos voluntários também. É luta demais, e o reconhecimento ao festival já veio. Está na hora de investir nele.

Interfira para que os artistas possam se apresentar mais no Teatro Carlos Gomes. É belíssimo, e nem precisa parar as formaturas pra colocar uma peça lá de vez em quando. Lembre-se: ele vai ser reformado com dinheiro do povo!

Ouça os artistas, Dona Marlene! E, se um dia, numa conversa mais amena, o prefeito estiver animado com os resultados, explique pra ele que com arte não se brinca.

Sucesso!

Daniel CostadeSSouza - http://costadessouza.wordpress.com/

MAIS UM GOLPE CONTRA A ARTE E A CULTURA

Espero que Marlene Schlindwein, realmente corra contra o tempo para conhecer as atividades da Fundação Cultural de Blumenau e principalmente, que entenda, o mais rápido possível que Arte e Cultura não são "hobby". A Arte e a Cultura, geram trabalho, emprego, renda e qualidade de vida. Não há como entender partidos políticos que indicam para cargos de tamanha importância, pessoas que admitem publicamente a falta de conhecimento nas áreas em que vão atuar.É lamentável e com certeza todos perdemos.

Em entrevista publicada no santa, Marlene assumiu que a sua nomeação é apenas uma questão política e além disso admite não ter conhecimento nenhum sobre as atividades da Fundação ... é revoltante! Pior ainda diz que tem a cerâmica e a poesia como Hobby, por favor, Arte e Cultura não são Hobby!

Isto é um desrespeito para quem pensa, faz, formenta e divulga a Arte e a Cultura em BlumenauO prefeito e o PMDB estão cuspindo na Arte e na Cultura.A classe artistica e o povo, merecem uma explicação.

Monalisa Budel

Acadêmica de Artes Visuais - Blumenau

5 comentários:

Marcelo Labes disse...

Ah sim! Eu só quero, mas quero mesmo, quero tanto e espero ansiosamente poder colar aqui relatos indignados, inflamados (ou não) dos colegas artistas institucionalizados. Aqueles, sim. Aqueles que geralmente silenciam...

Anônimo disse...

Hum...e um peteleco guardado nos comentários.
Labes, isso de dizer "vai que desistem" parece ser o pensamento do prefeito mesmo, e do "blumenauense típico".
Pena.

Anônimo disse...

Olha, ainda não escrevi a respeito, pois costumo o deixar para quem realmente entende do riscado. De artista não tenho nada, a não ser a conta bancária e a barba por fazer.
Mesmo assim, aproveito pra reproduzir aqui um pedacinho de um comentário que fiz no blog do Daniel, apenas para constar o que penso a respeito da nomeação:

"(...) Nós precisamos sim brincar com a arte, não com o sentido de sacaneá-la ou largá-la ao acaso. Nós precisamos brincar com ela justamente para nos tornarmos novamente amigos da arte.

Colocar um administrador de empresas ou um político para gerir a arte do município é uma afronta àqueles que gostam de brincar com a arte.

Minha preocupação é justamente a de que ao se preocupar tanto em tratá-la como gente grande, nós esqueçamos que a arte na verdade é uma criança.

E não uma ciência exata."

abraços.

Anônimo disse...

Assim fica o artista
Visto de uma trama de alta custura, para dormir pensando nas vagas dos concursos, ou no preço das ediçoes, da tinta, da cervejinha para depois da estreia.

Até quando blumenau?
Olhar quadros, mesmo tempo que come coxinha com refrigerante?

Marcelo Labes disse...

É Manguinha, no fim é isso: pirar mais no contexto do que na arte. Aprendemos assim, não? Até quando evitar levar a sério?

Beijo.