quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Provocação que veio a calhar.

Há, sim, mais o que dizer a respeito da nomeação da dama da sociedade, Sra. Marlene Schlindwein, para a presidência da Fundação Cultural de Blumenau. Mas quem veio provocar foi o Fábio Ricardo, (que inclusive provocou antes o Costadessouza). Pois bem, vamos aos ditos fatos e, para isso, vou responder a algumas provocações do Fábio Ricardo:

(...) “Nós precisamos sim brincar com a arte, não com o sentido de sacaneá-la ou largá-la ao acaso. Nós precisamos brincar com ela justamente para nos tornarmos novamente amigos da arte”.

Até concordo e imagino que, em relação ao artista, não há nada melhor do que brincar com a arte, seja a sua, seja a dos outros. Mas não vamos falar de arte, vamos falar de políticas culturais, de gestão cultural, de proposição de projetos que buscam algum dinheiro para uma entidade que definha.

Provocação aceita, vamos aos fatos. Andei conversando com um tanto de gente durante nessa última semana, a fim de encontrar algumas respostas. Uma delas diz respeito a um fato triste que se repete em cada uma das secretarias da Prefeitura de Blumenau. Como o assunto da vez é a Fundação, ela nos serve de exemplo.

Toda transição de governo é complicada, sem dúvida. Acontece que a Fundação, em vez de mostrar-se uma casa séria, serve muito bem de palanque eleitoral e cabideiro de cargos políticos. E isso aparece claramente no fato de que não se criam políticas culturais sérias em quatro anos. Nem em oito. Nem em doze. Mesmo assim, quem dita o que acontece ou não nessa casa são profissionais que assumem cargos políticos, temporários, que foram empossados por partidarismo, coleguismo e outros ismos, como nos acostumamos a saber.

Dentro dessa lógica, o profissional que entra na Fundação por competência e não tem filiação é logicamente desligado da casa e os profissionais que estão ali há mais de quatro, oito ou doze anos ficam não com as decisões político-culturais, mas apenas com a rotina burocrática de uma casa pública. Ou seja: não há estabilidade ideológica, tão necessária, nessa casa.

Dessa forma, me parece brincadeira que tenham diminuído o orçamento da Fundação. E que tenham diminuído o número de funcionários. E que coloquem ali a Dona Marlene, que não representa nada nem ninguém e que nunca ouviu falar da maioria de nós, seja lá em que parâmetro, artistas.

Portanto, Fábio, vejo que a Fundação Cultural de Blumenau é o playground da situação política de Blumenau. Sim. Porque é brincadeira empossarem Dona Marlene. E é brincadeira que Dona Marlene agora vá se informar do que acontece naquela casa. No meio dessa brincadeira toda (de puro mau-gosto), posso somente dizer: quem brinca com a arte é o artista; quem acha que política cultural é uma brincadeira, um faz-de-conta eleitoral, como vemos agora, é simplesmente ignorante. E são esses ignorantes que têm nos representado há um bom tempo, já.

“Colocar um administrador de empresas ou um político para gerir a arte do município é uma afronta àqueles que gostam de brincar com a arte”.

É sim, mas somente à primeira vista, somente dentro daquilo que vem acontecendo em Blumenau. Colocam um político para gerir seu próprio nome, não a arte do município. Um exemplo? Vamos levar adiante a teoria da conspiração:

1) Esse ano temos aí o sesquicentenário dos Clubes de Caça e Tiro. Esses clubes são organizações sociais que representam, em parte, muito da cultura blumenauense. Dona Marlene, do outro lado, é uma dama da sociedade que combina roupas e faz parte de, li no jornal, pelo menos cinco grupos sociais de senhoras sociais e tal. Mas temos o Ano dos Clubes de Caça e Tiro, o que me leva a pensar que...

2) Pois bem. Dona Marlene concorreu ao legislativo, mas não ganhou. E Dona Marlene, dizem alguns contatos, é um dos grandes nomes do PMDB para o legislativo estadual nas próximas eleições. Mas quem elegerá Dona Marlene, os artistas? As senhoras do Clube de Senhoras? Não, exatamente.

Dona Marlene tem em suas mãos a grande ocasião que é presidenciar a Fundação Cultural num ano histórico para boa parte da alemã Blumenau que habitamos. É isso que me deixa sem ter o que dizer: é tão escancarada a arrogância e a forma como nos subestimam, que em muito breve, ao invés de o Santa chamar Dona Marlene de A Dama das Artes, como fez, vai chamá-la de A Dama dos CCT´s. Querem apostar? Quero receber em cerveja!

A arte é uma criança auxiliada por adultos. Assim deveria ser, pelo menos. Mas o que podemos perceber é que, por aqui, a arte é uma forma oblíqua de manifestar dizeres. Tão oblíqua que não consegue dizer a si própria. Enquanto isso, claro, nossos colegas institucionalizados vão normalmente institucionalizando ainda mais a coisa toda, certamente apoiando Dona Marlene e auxiliando-a no entendimento do que é cultura, do que é arte, literatura, teatro, dança por aqui .

Uma pena que eu não faça parte de uma instituição dessas, seja de escritores, artistas plásticos ou senhoras sociais.

7 comentários:

Anônimo disse...

Acredito que a gestão cultural deva ser feita por um estudioso da cultura. Assim como não é o suficiente uma senhora de um clube de senhoras, também não é suficiente um poeta e dramaturgo.

Já vimos isso.

É preciso um estudioso das artes que conheça seus pontos fortes e fracos, que entenda do traçado e que saiba o que é melhor para a cidade nestes termos.

A pergunta é... qual é esse nome?

Marcelo Labes disse...

Ahpoisé! Qual seria o nome de quem vai apoiar algo sem retorno, sem dinheiro para, sem público afim de - e ainda pôr pra correr da institucionalização quem diz que vive de cultura e arte e, na verdade, vive de patrocínio partidário? Quem? Super Homem?

Abraço, Fábio!

Anônimo disse...

Quem é o Super Homem? Bem diz o Fábio: ser poeta e dramaturgo não é suficiente pra ser um bom gestor de política cultural. Mas vejam pelo prefeito. Enquanto não achamos o ideal, ficamos com um até bonzinho, não? A cidade é pequena, e na área artística menor ainda. Ninguém vai achar esse gestor tão cedo. O primeiro passo é achar alguém realmente disposto a tocar o barco que está aí, e uma tripulação que deixe a tarefa mais fácil. Como não adianta chorar a nomeação, resta ajudar a presidente.

Marcelo Labes disse...

Eu acho que sim, Daniel: fica difícil mesmo se houver apenas oposição. Da maneira tosca como as coisas vêm acontecendo, oposição sem diáologo torna-se a própria gratuidade de um governo que empossa sem responsabilidade. Mas esse "ajudar a presidente" tem de ser, no mínimo, também fiscalizar a presidência e exigir atitudes maduras - sempre que for possível havê-las, claro.

Anônimo disse...

amanhã é a nossa chance, hein? 16h30! vamos?

Palavras são cores disse...

Olá amigo, queria dizer-lhe que li seu livro e gostei muito de seu trabalho. Algo me tocou e fez-me respirar profundamente quando li "Até Quando" me senti inteiro em comunhão com este poema.

De seu amigo
João Batista Rodriggues
Se achar interessante fiz o meu blog a poucos dias...
http://palavrasaocores.blogspot.com/

Cíntia Ferreira disse...

Olá Marcelo,

Me chamo Cíntia e sou de Salvador- Bahia. Encontrei um texto seu no Overmundo sobre o Museu da Água de Blumenau. Aqui em Salvador nós estamos tentando implantar uma experiência semelhante, ou seja, construir o primeiro Museu das Águas da cidade. Estou buscando experiências nessa temática por isso a sua matéria me chamou a atenção. Gostaria de saber mais sobre o museu de Blumenau e se possível obter algumas fotos. Você poderia me ajudar com isso.
Muito obrigada pela atenção,

Cíntia Ferreira (cintiaferreira@gmail.com)