quarta-feira, 13 de maio de 2009

Há vida (e boa literatura!) no mundo eletrônico.

É longa a discussão a respeito de uma possível morte do livro como tal, impresso e consumido em papel, e de sua eternidade enquanto perpetuador do que conhecemos por meio de transmissão cultural. Essa discussão promissora toma forma em um livro (que eu tenha lido) do francês Roger Chartier: em A aventura do livro: do leitor ao navegador, Chartier reconta formas de escrita, de publicação e de leitura e, no fim das contas, parece contar com a continuidade do material impresso.

O livro deverá continuar fascinando leitores. Porém, se hoje publicar o material impresso tornou-se consideravelmente mais fácil — desde que haja dinheiro para tanto — temos em nossas mãos a facilidade das facilidades no que diz respeito à literatura. Com a velocidade da informação, não se está somente preocupado em obtê-la, mas também em repassá-la. O mesmo, por sinal, acontece com a literatura.

Se, por um lado, essa facilidade em tornar o material literário público permite que muita literatura ruim seja publicada, repassada e tida como o seu inverso, ou seja, boa literatura, por outro lado temos pequenos tesouros escondidos pelas rincões da Web.

Desde os fóruns de literatura — onde de tudo se publica e por onde quase todo escritor eletrônico passou — até comunidades direcionadas à discussão acadêmica de determinados autores, podemos nos deparar com escritores que, a sério ou não, publicam seus textos informalmente e, aos poucos, ainda assim, ocupam espaços de referência. Dos espaços que pude conhecer — e das pessoas que acabei conhecendo eletronicamente — recomendo alguns espaços sem dúvida interessantes. Limito-me a citar escritores catarinenses, embora essa seja uma discussão longa, porém pertinente: em terras eletrônicas, não se pode mais delimitar o escritor numa origem, cadenciá-lo num terreno aqui ou acolá.

SARAU ELETRÔNICO

Um espaço acadêmico e, ao mesmo tempo, do avesso. Por dois motivos: após a extinção da Revista Lírio Astral, coordenada pelo professor José Endoença Martins há alguns anos, não havia um espaço, por assim dizer, formal onde se pudesse ler sobre literatura catarinense — mesmo porque a Revista de Divulgação Cultural, da FURB, também fora extinta havia algum tempo; e, por outro lado, pelo sentido avesso a que me referi, porque não se lê ali somente a respeito dos autores: lê-se os próprios nas entrevistas concedidas ao Viegas, algo raro de se ver por aqui.

Nesse contexto, surge o site Sarau Eletrônico. Em função da comemoração dos 40 anos da biblioteca da dita universidade, o escritor e historiador Viegas Fernandes da Costa inicia a coordenação de um projeto que se tornou, em terras brasileiras, uma confiável e saudável fonte de informação sobre escritos e escritores deste estado. Além das entrevistas, temos ali artigos acadêmicos ou não e dicas interessantes de livros de que a biblioteca dispõe. Para além do óbvio, o que nos é muito melhor.

ALPHARRÁBIO

Viegas da Costa há muitos anos utiliza-se da Web para publicar seus textos. Autor dos impressos “Sob a luz do farol” (crônicas, 2005) e do aqui criticado “De espantalhos e pedras também se faz um poema” (poemas, 2008), publicou entre 2002 e 2006 no site A Barata, sendo lido por milhares de leitores que semanalmente recebiam suas crônicas por email. Hoje, publica no seu Alpharrábio — com a liberdade temporal de que se dispõe quando se é dono do próprio espaço — contos e crônicas (literárias ou não) e pontos de vista de quem sempre tem algo substancial a dizer.

DUELO DE ESCRITORES

De dar inveja a seriedade com que levam adiante este projeto. Mantido por cinco autores, o Duelo, como é carinhosamente chamado, é atualizado a cada dez dias e mostra um pouco do que são capazes seus duelistas: com temas prévios (que devem ser seguidos) e regras esclarecidas, os autores têm prazo para publicar o seu texto. Aí é que está a garantia de boa leitura: cada autor publica o seu texto. Dessa forma, embora com tema predeterminado, lê-se, cada vez, não apenas variações sobre o mesmo tema, mas variações em torno do próprio autor, que precisa se adequar também ao assunto da rodada.

Através do site do Duelo pode-se chegar a outros sítios riquíssimos, mantidos por duelistas fora da competição. Falo dos blogs de Marina Melz e Rodrigo Oliveira, merecedores de leitura e de acompanhamento. Embora em estilos diferentes — Marina escreve crônicas em torno de seu cotidiano enquanto Rodrigo mergulha nas liberdades que a escrita permite — são dois espaços férteis para quem deseja ler um bom texto.

POIS ENTÃO

Há mais, há tanto, há quantos? Felizmente, cada autor de blog mantém a sua lista de blogs favoritos. É através dos links que chegamos sempre mais longe. Mesmo que mais longe signifique, muitas vezes, ao nosso lado.

Se há que se preocupar com a extinção do livro, eu acho que não. Ele continuará, como sabemos. Mas que, talvez, se deva clicar com foco, lendo o que de bom se publica na internet, eu acho realmente que sim. E espero que estes links dispostos aqui sejam um bom ponto de partida para que quem já escreve na internet conheça outros autores; para quem ainda não escreve, que sirvam de exemplo estes autores que fazem o mundo eletrônico um espaço realmente interessante.

3 comentários:

Charles disse...

super! é isso aí, vida longa a toda literatura, seja impressa, seja binária...
abraços,
charles

Rodrigo Oliveira disse...

Muito bom rever o Falações retornar as falações. Esse é um espaço - o primeiro que conheci - a olhar para cá com olhos mais atentos e de qualidade. Longa vida ao Falações! E mto alegra estar aqui tb. Há que se escrever (e discutir), de fato.

Cristal de uma mulher disse...

Vejo que isto é muito bom o livro virtual. áis ai como fica as vendas destes livros manuais que o autor vive de escrever?
Seria mesmo bom isto ?

Bom o que eu não gosto para mim talves não seja bom para meu irmão..
Gostei do tema muito bom..Abraços