quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Rodrigo Oliveira e Falações no Sarau Eletrônico

Antes de, oportunamente, escrever aqui a respeito do Sarau Eletrônico, vem a dica para que se visite esse sítio.Nesta edição foi publicada a crítica de Falações escrita pelo Rodrigo Oliveira.

Pra quem ainda não leu o "Poesia Twist. Poemas com um toque limão", uma recomendação: Rodrigo foi quem, talvez, mais tenha ido fundo na leitura deste volume de poemas - e quem mais emocionou ao dispor-se a escrever sobre ele.

Ficam como dica, portanto, o Sarau Eletrônico e o blog do Rodrigo Oliveira: há muito que se descobrir por estes campos eletrônicos e férteis.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Blumenau hoje eu queria te dar flores

Muito já se falou por aqui de autores e autorias oriundos dessa pequena cratera que denominamos carinhosamente Blumenau. Se há poetas? Há. Se há proseadores, também. No entanto, entre a brincadeira de tentar trazer à tona um pouco do que pouco se escreve – ou muito se escreve e pouco se lê, depende o ponto de vista, percebi ter deixado de lado um poema importantíssimo.

Porque um poema natural. Se temos, de um lado, Lindolf Bell brincando de ser o mais filho da terra do outro temos os poetas experimentalistas, que mais podem fugir dos braços da mãe germânica. Tanto o primeiro como os segundos deixaram filhos e o que se lê hoje, embora novo, muitas vezes não passa de um mais do mesmo tardio.

O autor desse poema que segue, devemos chamá-lo poeta. Não porque escreva em versos (alguns dos maiores poetas que conheço ou conheci estão nem aí pros versos), mas porque é poeta sem precisar esforçar-se para sê-lo.

Dessa forma, terminando aqui a introdução, digo que tanto faz – por hora – que haja dois lados na literatura que nem blumenauense pode ser chamada. E não importa que haja seguidores desses lados, defendendo-se muito e escrevendo pouco. O que importa, no fim das contas, é a naturalidade com que Daniel CostadeSSouza escreve. Pois bem, um abraço.

Blumenau hoje eu queria te dar flores

Eu já tinha me avisado da mudança
Tudo muito no lugar dá certo não
Eu não sabia, nem pergunte, eu não me sei

E quero quero

Destruir com tesão, com gargalhada
Ampliar o carinho, o contentamento
Desbrandalize!

A rua Antônio da Veiga, o meu sonho, meu primeiro caminho de casa
Em terra nova

Inova, inova, tradição loira,
Esse peito, esse jeito bem peixeiro
Que aqui tem gente, e pouca história serve
Pra seqüência

Rostos, cores de cabelo, de lábios, contornos
Coxas, vestidos, saias sem vento são teclas de rock n´roll

Loira!

Que te quero nova, porque nosso momento, a memória, o prazer,
Foi o doce primeiro ponto de ônibus quando vi perfilados meus dois bares vizinhos
E minhas noites de sair sozinho feito aquele tal doutor que falas tanto
Assim, contra quem diz que deixar seu povo é morrer de medo
Porque eu só morri de amores
Pela Vivi, pela Van.

Essa lembrança tua está pendurada
No calendário meu de final de ano
Nos dias a contar
Desde agora

Em boa, melhor hora impossível.
No nosso aniversário. Bem assim, entre o meu e o teu, o nosso!
Que passem as fridas, suas vidas, suas idas e vindas!
Que se esfreguem mal vestidas no meu pau em Blumenau.

Daniel CostadeSSouza escreve no blog Texto Decorado.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Um outro blog, um blog novo. Dois agora.

Quando tiver assunto aqui, escrevo aqui. Quando tiver assunto lá, escrevo lá. A questão é que, aqui, não se trata de assunto. Não sei de quê se trata, afinal, essa coisa de escrever. Mas se ela está aqui, agora (ela é e está, e vem mais estando do que sendo ultimamente), é necessário tornar o escrito capaz de ser lido. Portanto. Pois bem.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Meme

Primeiro, li no blog do Rodrigo Oliveira. Depois, no do CostadeSSouza, de onde partiu o convite para eu também responder a estas perguntas:

1. Livro/autor(a) que marcou sua infância:

Uma releitura da história do Barba Azul que me perturbou a vida. Falando nisso, nunca voltei pra saber quem fora o tal. Matava as mulheres, o desgraçado. E o exemplar da escola ainda era ilustrado. ILUSTRADO. Eu tinha só dez anos, pô!

2. Livro/autor(a) que marcou sua adolescência:

Sem dúvida, José Mauro de Vasconcellos com seu Meu Pé de Laranja Lima e uma antologia incompleta do Castro Alves.

3. Autor(a) que mais admira:

Pergunta difícil. Gosto muito do Bandeira na poesia. É ele quem me define o que é a tal. Mas gosto do Camus, do Sartre, do Saramago, do Cony e do Nizan naquela prosa existencialista deles. E tem o García Márquez, que não é existencialista e é bom pacas.

4. Autor(a) contemporâneo:

Se espero ler mais alguma coisa de mais alguém que eu tenha lido ultimamente e que ainda esteja vivo? Quero ler mais do Gregory Haertel e do Godofredo de Oliveira Neto na prosa e do Mauro Galvão e do Viegas, da poesia deles.

5. Leu e não gostou:

Se não gostei, não terminei de ler. Daí não conta. Ah sim. Não gosto do Olsen Jr.

6. Lê e relê:

Sartre, Henfil, Bandeira, José Endoença e Mauro Galvão.

7. Manias:

Comprar livros e deixá-los pegando poeira na estante. Nunca comprar um livro de autor desconhecido que não tenha sido muito bem recomendado. Ler aos poucos, dentro do ônibus, na fila, na lanchonete... Ficar triste quando um livro muito bom está em vias de acabar (a propósito, isso acontece agora com Matéria de Memória, do Cony). E criticar o que eu acho que merece ser criticado (risos!).

E a lista segue adiante (não pode parar a brincadeira, entendeu?) recomendada aos colegas:

Marcito: http://libidinagens.blogspot.com/
Viegas: http://viegasdacosta.blogspot.com/
e Cadu: http://caduhenning.blogspot.com/.

domingo, 11 de janeiro de 2009

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Destes tempos em Aguardo

DE COMO UM ESCRITOR CONSEGUE, A PARTIR DE SUA REALIDADE, DECODIFICAR O MUNDO E O HOMEM

Há algumas questões acerca da Literatura que merecem respostas, embora se vá discutir toda uma vida a respeito do que é ou não é um texto literário, se o poema tem ou não poesia, se o romance chega ou não ao seu objetivo, que também é algo a se discutir: qual o objetivo de um romance.

Numa mesa-redonda acontecida em agosto deste ano, cujo tema era a poesia blumenauense, dois de seus participantes defenderam que em tempos de pós-modernidade tecnológica não se pode mais falar sobre um texto de aqui ou acolé. Dessa forma, portanto, não poderíamos determinar um texto através do lugar onde ele é escrito. Um dos participantes, José Endoença Martins, defendeu o lugar de origem do texto, de modo que sua localização pode determinar sua importância para os leitores daquele local de origem. Pois bem, aceito essa visão para continuar a escrever este texto.

Para quem já tinha assistido às peças de Gregory Haertel, seu romance talvez tenha sido menos doloroso. Mas acredito que poucos tiveram, até então, a oportunidade de ler Haertel. Muitos de nós assistimos às suas personagens mergulhadas nas próprias dores, cientes ou não de suas insanidades. Assim, parece redundante querer escrever sobre como Aguardo, o primeiro romance do autor de peças como A Parte Doente e Volúpia, pode remexer conceitos e estômagos. No entanto, é preciso falar a respeito.

Aguardo desestrutura. Sua própria estrutura narrativa, assemelhando-se ora a uma novela, ora a um livro de contos, o torna uma obra singular. Mas não é somente a estrutura do texto e sua belíssima composição que agradam. Pra quem espera mais, lá está: Haertel, escrevendo sobre sua cidade imaginária, com personagens imaginárias (ou não, claro está) ao mesmo tempo em que desconstrói o mito há muito tempo enraizado, por estas bandas, de que nosso passado é belo, indolor, e nosso presente é fértil, também conta uma bela história para ser lida em qualquer canto do mundo.

“Não obstante toda dor, há sempre o que piorar”, escreve Pépe Sedrez na orelha de Aguardo. De fato: se há um consenso a respeito do sentido de escrever e ler literatura, este se encontra na capacidade de a) o autor, a figura alienígena da sociedade, conseguir pôr em palavras o que o incomoda e b) o leitor, necessitado de um ponto de vista ficcional, procurar uma saída na literatura. Literatura sem dor, portanto, o que seria? Aguardo é incômodo, é não saber se situar entre personagens, entre os rumos indevidos (porque tão reais e necessários) que a história toma e, sobretudo, não querer se encontrar nas páginas do romance.

É aqui, então, que volto a uma das primeiras questões deste texto. Ouso, para isso, citar este romance Aguardo, de Haertel, como a obra que a prosa blumenauense necessitava para se sentir, de fato, literatura. Indiretamente ligado a um passado fértil da prosa ficcional, que tem origem, principalmente, no texto de Urda Kluger — e mais recentemente na obra policial de Maicon Tenfen — Gregory aponta para um futuro promissor na literatura. O que não quer dizer que este autor prometa, porque mais cumpre do que realmente promete; mas que, de certa forma, Aguardo tem o poder de, ao mesmo tempo em que mira diretamente para as origens de seu autor, afastar-se dessas mesmas origens para justamente evitar qualquer tipo de descrição inglória: sua literatura não é daqui, não é dali. É literatura e é boa.

Encontrando-me com e enfrentando as personagens de Haertel, não consigo parar de pensar em dois autores franceses que admiro muito. De um lado, Camus denuncia o absurdo do homem e da sociedade ocidental do século XX a partir de histórias cotidianas, sempre tão bem metaforizadas que — hoje se vê — não importam as localizações geográficas e culturais de seus leitores: o absurdo não tem idioma. Justaposto a este, Nizan aproveita-se de uma viagem à cidade de Aden, no Iêmen, para denunciar a sociedade francesa e, mesmo que depois de trinta anos, ser um dos principais inspiradores da revolução cultural causada pelo Maio de 68.

Se não dou pistas de onde Aguardo chega e de onde sua leitura nos leva, é para não tirar do leitor a oportunidade de ler um romance que há muito era aguardado. E que finalmente chegou.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A literatura sobrevive e, às vezes, protagoniza.

Santa Catarina, eu repito, não é um estado de espírito. Preciso provar? Pois bem, então o faço através deste relato a respeito do I Encontro de Literatura e Artes e do III Fórum Brasileiro de Literatura de Blumenau, acontecido no passado mês de agosto.

Idealizado pelas professoras Tuca Ribeiro e Marilene Schramm, o evento foi acolhido pela FURB – Universidade Regional de Blumenau, pela Fundação Fritz Müller e pela Fundação Cultural de Blumenau, com o apoio da SEB – Sociedade Escritores de Blumenau.

FICÇÃO, LEITURA E IDENTIDADE

Foi com este tema que o escritor Godofredo de Oliveira Neto, blumenauense radicado no Rio de Janeiro, começou o evento. Godofredo, um dos maiores autores paridos por este estado e, atualmente, um dos maiores nomes da literatura brasileira, teve uma fala rica em reflexões a respeito da identidade do escritor e do leitor.

Autor de romances importantes na bibliografia nacional, como Pedaço de Santo e O Menino Oculto, Godofredo saiu aos 17 anos de Blumenau. Foi para a França, voltou, e já vive há bastante tempo no Rio. Mas o que isso teria a ver, afinal, com a sua escrita e a relação desta com o solo blumenauense? Talvez sejam necessárias raízes para se escrever e talvez essas raízes tenham importância desigual na composição literária.

Nada melhor para provar que, de fato, a relação do escritor com suas origens influenciam o seu texto. Para quem já o leu, é clara o contato que Godofredo mantém com terras catarinenses. E imagino que O Bruxo do Contestado, o primeiro romance famoso do autor, exemplifique o que tento dizer.

E O DIABO?

Boa pergunta. Muito boa mesmo! Pois que ele, o Diabo, talvez nunca tenha sido tão estudado e respeitado antes. É que a Profa. Dra. Salma Ferraz, da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, grande estudiosa literária influenciada e protagonista em terras brasileiras da Teopoética (estudos comparados de literatura e teologia) veio nos falar sobre As Malasartes do Diabo na Literatura Ocidental.

Salma fez um panorama, portanto, comparando os estudos literários que remetem ao Santíssimo (falo de Deus), mas que dificilmente remetem ao tinhoso. Explanando, portanto, a Bíblia, a Torá e o Corão, partindo daí para análises de teólogos a respeito da figura do Diabo, utilizando-se também de algumas súmulas católicas e finalmente retomando análises literárias, Salma nos mostra que o Diabo, afinal, não somente é parte importante e necessária da fé ocidental, como uma grande figura merecedora de análise.

Ao final de sua fala (uma hora e meia sem respirar — fala substancial, sem dúvida — Salma lançou seu novo livro de ficção. Depois de O Ateu Ambulante, livro recheado de contos premiados e, por assim dizer, questionadores, Salma lança um livro mórbido. A Ceia dos Mortos não poderia falar sobre outra coisa se não sobre morte. O que se lê, adianto, são variações sobre o mesmo inevitável tema. E variações variadas, contundentes, merecedoras de leitura.

TEM LUGAR PRA POESIA?

Tem sim, leitor. Na terceira noite do evento, aconteceu a mesa-redonda Poesia Blumenauense: De Onde Viemos, Para Onde Vamos, onde tive o prazer de compartilhar a fala com grandes autores, merecedores de leitura e atenção. Ali estavam, portanto, o Prof. Dr. José Endoença Martins, o Ms. Marcelo Steil, o poeta Mauro Galvão e este que vos escreve, Marcelo Labes.

Falando sobre a poesia produzida em Blumenau desde o século XIX, quando ainda era escrita em língua alemã, Marcelo Steil construiu sua fala sobre as noções marxistas de ideologia os respectivos reflexos desta na criação literária. Em seguida, rompendo estruturas, o professor José Endoença Martins referiu-se não somente à teoria de sua autoria sobre a poesia blumenauense, como foi além, reconstruindo sua carreira poética e acadêmica, chegando à pós-modernidade e explicando, por exemplo, estudos seus sobre negrice, negritude e negritice.

Em seguida, Mauro Galvão contemplou a pós-modernidade presente em seu texto, mas principalmente refletiu a necessidade de se ler, seja lá o que for, incluindo aí a quebra de limites imposta pela internet e seus possíveis reflexos na leitura do objeto-livro e nos hábitos de leitura e escrita da contemporaneidade.

Finalizando, foi a minha vez de falar e não podia perder a oportunidade de explicar às pessoas que nos ouviam que, baseado no que tinha ouvido nos dois dias anteriores, a leitura dos poetas que me acompanhavam na mesa-redonda não era somente necessária, mas obrigatória. Não porque eles precisem vender livros, mas porque precisamos de leitores críticos. Dessa forma, uma vez que tratamos de literatura blumenauense, imagino que seja um caminho interessante iniciar a crítica a partir de nossa realidade.

UM EVENTO QUE AINDA PROMETE

A professora Tuca Ribeiro não escondeu suas intenções. “Queremos iniciar aqui uma nova Jornada Literária, uma nova FLIP”. De fato, o primeiro passo foi bem dado. Discutindo leitura, identidade, ficção, o diabo na literatura ou os caminhos da poesia escrita em Blumenau, imagino que possamos ter participado de algo maior.

A partir do momento em que o pontapé inicial foi dado, resta-nos esperar pelo ano que vem para sabermos o que de fato acontecerá. De qualquer forma, o que ficou claro durante este evento é que não há somente pessoas interessadas em discutir literatura, conforme as pessoas presentes que falaram a respeito de seus e outros textos. Sobretudo, e digo isso baseado nos presentes, há pessoas interessadas em ouvir o que se tem a dizer a respeito do texto literário. Dessa forma, o que se pode esperar é que a semente germine. Germine e dê frutos e se torne uma grande árvore. Árvore de textos ou qualquer coisa assim.

Publicado originalmente no Overmundo.